Construindo o Mapa Afetivo da cidade

Às segundas e quintas-feiras, os 9°, 1° e 2° anos do Colégio Objetivo São Miguel Arcanjo, sob a coordenação da Professora Júlia Marques Galvão, Diretora Cultural do OPOCA, vêm à Casa OPOCA para as suas aulas de Eletiva de Cultura e Patrimônios. 

A proposta da eletiva de Cultura e Patrimônios, dentre outras várias possibilidades que estes temas oferecem, é observar a cidade. Não só olhar com os mesmos olhos entediados pelo dia-a-dia e a monotonia da rotina, mas sim reparar, como já nos orientou José Saramago em seu prólogo no livro “Ensaio sobre a cegueira”. Assim, como faziam os discípulos do filósofo Aristóteles que tinham aulas e discutiam enquanto caminhavam, fizemos algumas caminhadas para observar e reparar São Miguel Arcanjo. Isso foi muito simbólico depois de um bom tempo de confinamento, em que o corpo pedia e pede movimentação e contato com o chão e as paisagens.

Segundo a coordenadora do Programa de Pós- graduação em Arquitetura da UFRJ, Gisele Arteiro, as cidades vêm perdendo sua vitalidade e a possibilidade de desfrute do espaço aberto e público. “O desenvolvimento urbano tem promovido um cotidiano cada vez mais preenchido por atividades que enclausuram e privatizam a infância”. Seguimos esse modelo sem pensar nos avanços e retrocessos das modificações que a cidade vem sofrendo e os impactos que isso tem no cotidiano dos jovens, crianças, adultos e idosos.  

Existem diferentes estudos que se debruçam na compreensão do urbano que trazem novas possibilidades e olhares sobre as questões econômicas, sociais, culturais e éticas. Por em evidência o entorno a partir dos afetos é promover o encontro entre o ser e a cidade, dando atenção ao que conhecemos, nossa percepção e orientação, ao mesmo tempo em que estimula o diálogo sobre a possibilidade de desenvolver o pensamento ético-afetivo sobre a cidade.

Fazer o nosso próprio Mapa Afetivo proporciona uma troca de conhecimentos sobre o nosso território, os pontos em comum; nos faz nos conhecer melhor e cria vínculos e sentimentos de pertencimento sobre o espaço e sobre as pessoas. Também traz a possibilidade, segundo Ana Paula do Val, de ler o território como produto de múltiplas temporalidades, percepções e apropriações, que desencadeiam narrativas antagônicas, convergentes, consensuais e conflitantes e por isso podem revelar visões e percepções sobre o espaço que não são divulgadas e evidenciadas pelos grupos hegemônicos. Fazer esse exercício de se colocar no mapa e refletir sobre o seu lugar neste mapa suscita o questionamento sobre o seu conhecimento sobre o território, as redes que você utiliza, a sua fruição do espaço público, o acesso e a privação de acesso, a sua representatividade identitária, de etnia, classe, gênero, etc.

Fomos a lugares escolhidos pelos alunos que fazem parte de seu cotidiano, e no Mapa desenhado por eles, foram trazidos uma síntese dos lugares e das pessoas que constroem os vínculos afetivos com o espaço urbano e com a sua história individual e coletiva. Muitas vezes, considera-se patrimônio apenas o grande monumento, enquanto o conceito abrange também o pequeno campo de futebol, a pista de skate, um parque, uma rua,  a casa de um amigo… Em nosso Mapa Afetivo, é revelado a nossa visão e os nossos sentimentos sobre a cidade.

A Eletiva de Cultura e Patrimônios da Escola Objetivo de São Miguel Arcanjo é ministrada pela Professora Júlia Galvão e tem parceria com a Casa OPOCA. 

Júlia Marques Galvão

É Diretora Cultural do Opoca e Mestra em Gestão e Programação de Patrimônios Culturais pela Universidade de Coimbra, Portugal. Formada em Turismo pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Possui trajetória com experiências em gestão e programação de projetos culturais, ambientais e educacionais durante toda a sua vida profissional. Se dedica a estudos, vivências e ações sobre temas como feminismos, cultura e racismo.

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