O Projeto No Caminho de São Miguel Arcanjo: Um Mapa Afetivo da Cultura São-Miguelense tem o intuito de conhecer e ouvir o outro, os locais onde vivem, as diferentes paisagens, ou seja, tudo aquilo que nos traz carinho, afeto e memórias do lugar onde vivemos. É um processo de autoconhecimento e reconhecimento sobre o que identificamos como nossa cultura. A partir de nossas vivências, histórias, memórias, afetividades, construímos coletivamente um Mapa Afetivo do município.
Formado por um grupo heterogêneo de adolescentes, jovens e adultos de bairros rurais e do centro da cidade, o mapa é resultado da síntese das pesquisas acerca do que lhes despertam as memórias afetivas e as referências culturais existentes em nosso território. Além dos debates e reflexões sobre a cidade, que envolviam o reconhecimento e a reafirmação de direitos, o mapa também apresenta diferentes preocupações com a situação sócio-histórico-cultural-ambiental e econômica do município.
Iniciamos o processo do mapeamento pouco a pouco. Primeiro em nossas mentes através de dinâmicas que estimulam a observação atenta e profunda ao olharmos os espaços de convívio e vivências, despertando as percepções de como afetamos e somos afetados pelas escolhas e decisões de pessoas, instituições, estabelecimentos, etc., que intervém nos espaços em que nos reconhecemos. Depois, passamos a refletir sobre os lugares que nos despertam maior afetividade, que nos trazem boas lembranças. Assim, cada um identificou através de sua bagagem emocional os seus espaços, objetos e lugares afetivos que pudessem ser identificados e mapeados. Esses pontos algumas vezes se igualavam ao do outro criando identificação e troca.
Dessa forma, após as pesquisas iniciadas, o mapa finalmente criou vida ao se transformar em uma ferramenta virtual de acesso livre e posteriormente colaborativa.
Essa ferramenta carece de constante complementação e atualização, fazendo parte de um processo que deve ser contínuo e permanente, por isso o Mapa tem sinalizado alguns pontos considerados importantes para quem o fez. Com certeza quem visualizar terá mais ideias de patrimônios culturais que devem e merecem estar referenciados. A intenção também é provocar e gerar mais pontos de vistas, afinal, quando se trata de patrimônios, não existe apenas uma visão, não existe apenas uma verdade sobre um fato.
Algumas categorias pontuadas foram baseadas nas do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e outras elaboradas a partir de nossa realidade cultural. As categorias do Iphan identificadas pelos jovens em nossa cidade foram: Lugares (Bairro do Turvinho, Bar do Seu Luiz, Áreas Protegidas, Trilha do Seu Matias); Celebração (Troca de Bandeiras); Saberes (Bolinho de Frango, Mingau de Milho Verde, Paçoca de Carne); Formas de Expressão (Modos de falar típico, Música Local, Graffites e Pixações).
Já as categorias criadas a partir da nossa realidade cultural foram: Mestres da Mata (Seu Clarindo – Vigia do P.E.C.B. e Seu Matias – Morador do Mato), autênticos conhecedores da Mata Atlântica; Mestres da Arte (Ari Lima – músico, Didi – pintor urbano), artistas reconhecidos por nós, são-miguelenses; Quintais Agroflorestais; Construções Históricas (Casas Caipiras e Prédios Antigos) e Árvores Nativas de Alto Valor Paisagístico.
Além dessas categorias, também estão sinalizados os patrimônios em risco de extinção e extintos, para destacar os ditos “avanços” quando uma cidade escolhe, em nome de algo que se remete ao “progresso”, destruir o patrimônio cultural material e imaterial e não se investir em sensibilizações e capacitações sobre esses temas tão importantes.
Acreditamos que conhecer a história de onde se vive, os rituais, as celebrações, os modos de expressão, os saberes, os lugares recheados de significado considerados importantes para a população, é fator determinante para desenvolver o sentimento de pertencimento e valorização do lugar onde vivemos e de nós mesmos.
O Mapa Afetivo pode nos revelar uma realidade que às vezes não conhecemos, ou que conhecemos mas não damos o tempo necessário para pensar a sua riqueza, para pensar a riqueza do nosso território, tornando-a, assim, de alguma forma, escondida, esquecida ou desvalorizada por nós mesmos.
O Projeto No Caminho de São Miguel Arcanjo: Um Mapa Afetivo da Cultura São-Miguelense, segue em construção. Semanalmente publicaremos em nossas páginas os pontos levantados e trabalhados por dezenas de jovens desta ação realizada pela Cidade Escola e patrocinada pelo projeto Cultura Viva! Participe você também e deixe o seu afeto à cidade afetar positivamente tantos e tantas outras.
Acesse o Mapa Afetivo neste link: https://www.google.com/maps/d/viewe…
Ou clique na imagem abaixo:
Júlia Marques Galvão, Brasil
Coordena o Ponto de Cultura Casa OPOCA e integra o Conselho Diretor do Opoca. É Mestra em Gestão e Programação de Patrimônios Culturais pela Universidade de Coimbra, Portugal. Formada em Turismo pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Possui trajetória com experiências em gestão e programação de projetos culturais, ambientais e educacionais durante toda a sua vida profissional. Se dedica a estudos, vivências e ações sobre temas como feminismos, cultura e racismo.