Palmilha

PALMILHA ESSA INSTÂNCIA QUERIDA

A CONSTRUÇÃO DO “NOVO” A PARTIR DO COTIDIANO

Caminha por onde a vida acontece e tudo vive, resiste, sobrevive. E a aparente unidade do cotidiano se dissolve nos seres e em suas presenças diversas, admiráveis, perversas.

Caminha pela cidade, por seus cantos, pelos becos, centros e praças. Por suas feiras, campos e territórios…. Palmilha essa instância querida…. É onde o ser humano vive, anda, canta. Conhece…. Onde a gente é conhecido, reconhecida, se reconhece, reconhece… disputa, erra. Dança, sonha. Chora, aprende e ensina; se educa. Onde o cotidiano acontece e o todo do ser é abarcado. Nossas alegrias, nossos sofrimentos. Angústias, prazeres, gozo. Nosso trabalho, nosso ir, nosso vir, nossas relações. Nossa paz. É onde a violência se concretiza. A corrupção derrama suas consequências. A injustiça ganha os corpos de suas vítimas e a resistência sobrevive, aguenta, aprende, apreende, reformula, promove vidas, sorrisos, encontros.

Onde a solidariedade ganha formas, semblantes. O amor também se concretiza ali, nas relações, nos gestos. Num simples gesto. É um lugar privilegiado da utopia: “tem cada organismo a sua língua peculiar. Os que vivem mais próximos entendem-se melhor. O ar segreda à água, a raiz ao lodo, a luz à folha, o pólen ao ovário. Há fluidos que se casam, raízes que se querem bem”.

É onde se constrói confiança, no dia-a-dia, nos atos, nos olhares, nas conversas nas esquinas, livres de burocracias, estruturas, instituições, mas também fraturado por vezes, e associado por outras, por tantos outros poderes e resistências entre as relações e os saberes. Por seus “múltiplos planos e realidades” (Cunha, 2014, 214); por suas vielas e centros entrecruzados, margens forjadas; por essa “rede complexa, contraditória, opositiva e, ao mesmo tempo, interrelacional”, como escreve Shahd Wadi (2017: 174). Anda, pois, por tua cidade.

É a vida do cotidiano que vai nos “servir de critério real de descobrimento” (Dussel, 2009: 440) das necessidades mais urgentes da utopia real, crítica e das suas solidariedades, possibilidades, forças, presenças. Do peso das corrupções e das suas violências, injustiças; dos sofrimentos, das perversidades. Caminha, encontra, conversa, ouve, acredita. Há de haver esperança.


Saiba mais sobre a filosofia que fundamenta a metodologia da nossa utopia.

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Trecho do primeiro capítulo da Tese A Vida Delas e Deles, a Nossa, na Cidade do Anjo. Knob, Tiago Miguel. Tese de Doutoramento em Pós-Colonialismos e Cidadania Global, apresentada à Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Acesse em Estudo Geral Universidade de Coimbra

De 2013 a 2019 o caminhar que instituiu o OPOCA foi conteúdo de pesquisa acadêmica que resultou na tese de doutorado A Vida Delas e Deles, a Nossa, na Cidade do Anjo: uma utopia crítica pós-colonial das gentes do cotidiano, realizada no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Portugal. Como parte das ações da Organização, a pesquisa desenvolveu a metodologia e a pedagogia de ação do OPOCA, realizou uma crítica ética à realidade são-miguelense e instituiu o Observatório Popular Cidade do Anjo como uma alternativa factível e real às violências e desigualdades sociais, se integrando a redes de organizações nacionais e internacionais que atuam em suas distintas frentes pela afirmação da dignidade humana.

Referências e sugestões de leitura

Texto inspirado no poema Querência de Rodrigo Castro Francini.

Cunha, Teresa (2014). Never Trust Sindarela. Coimbra . Almedina.

Dussel, Enrique (2009). Política de la Liberación: arquitectónica. Volumen 2. Madrid : Trotta.

Wadi, Shahd (2017). Corpos na Trouxa. Coimbra : Almedina.

As frases “entre aspas” são de: Junqueiro, Guerra (2017). Prefácio. In: Brandão (2017), Os Pobres. Guimarães : Opera Omnia, pp. 9-22

Como citar

Knob, Tiago Miguel (2018), A Vida Delas e Deles, a Nossa, na Cidade do Anjo: uma utopia crítica pós-colonial das gentes do cotidiano. Tese de doutoramento apresentada à Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.

Autor

Tiago Miguel Knob é Coordenador Executivo do OPOCA. Vice-Presidente do Instituto Homo Serviens (SC). Doutor pelo Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, Portugal, e Mestre em Ciências pela USP, São Paulo. Pesquisador Convidado do PerMaré, Faculdade de Belas Artes, Universidade de Lisboa, Portugal.

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